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Mais de cem anos depois, obra ainda é referência para entender os valores que sustentam a sociedade japonesa até hoje
Um filme histórico de Hollywood é “O último samurai”, que conta a história de Katsumoto, um samurai insurgente que se dedica a contrariar as forças que atuam, segundo ele, corrompendo os valores e as tradições japonesas. Na história, o capitão do exército considera o personagem de Katsumoto como representante justamente daquele guerreiro de honra, que não teme e se dedica a seu dever com muita disciplina, além de ser gentil.
As produções hollywoodianas retratam esse modelo que acabou por ficar absolutamente arraigado no senso comum de um samurai com uma moral intocada e um porte físico excelente. Muita dessa ideia foi popularizada justamente a partir de um livro publicado pela primeira vez em 1900, Bushido – Alma Samurai. O autor é Inazo Nitobe, cuja obra segue sendo referência para quem busca compreender os valores que fazem parte da sociedade japonesa.
Através de sua obra, Nitobe, que era também economista agrícola, educador e foi também nomeado subsecretário-geral da Liga das Nações por dez anos, tinha a intenção de explicar às pessoas do ocidente os valores dos japoneses. Bushido é como um código de boas condutas de um samurai que ensina sobre justiça e coragem para fazê-la com predicados como autenticidade, honra, liderança e muita gentiliza.
Alguns historiadores, porém, contestam essa descrição e a acusam de ser muito romântica, pois os samurais não exatamente viviam uma vida de lealdade e honraria.
Nitobe, em sua obra, também diz que esses valores eram compartilhados no Japão, mas os samurais, já foram acusados de abuso de privilégio quando suas habilidades marciais começaram a ficar antiquadas numa realidade de estabilidade social. Mesmo assim, Nitobe não tinha mesmo a intenção de oferecer com sus livros relatos históricos, mas o de apresentar o sistema de valores do Japão como bem parecido com os da moral cristã, e para isso faz constantes referências à filosofia e literatura da Europa.
O objetivo do livro era desmentir a ideia de que o Japão seria uma ameça ao continente europeu e criar uma imagem positiva do país. O livro foi muito bem recebido e de fato cumpriu com seu objetivo de melhorar a imagem do Japão no Ocidente.
O sucesso do livro também tem a ver com a ascensão e os êxitos militares do Japão sobre Rússia e China, que vinha intrigando o mundo. Essa imagem de retidão moral foi um argumento bastante convincente para explicar como uma nação tão pouco expressiva em tamanho poderia vencer oponentes vizinhos tão maiores e mais poderosos.
Esses valores continuam sendo muito importantes no Japão, fazendo com que Bushido também seja evocado nos esportes, como pelas seleções de beisebol e futebol.
Para a professora universitária Teikyo Hesei, a prevalência desses valores tem mais a ver com a influência do confucionismo que do livro, mas ainda assim é o livro de Nitobe que segue dando notícias ao exterior sobre esses valores que seguem sendo de fundamental importância na sociedade japonesa.