Tweet |
Para os brasileiros que vivem no Japão há mais de três décadas, o resultado do primeiro turno das Eleições desse ano não foi uma surpresa
Miguel Kamiuntem é paranaense e realiza uma pesquisa sobre as mudanças no eleitorado brasileiro. Ele também co-fundou o MBE (Movimentos Brasileiros Emigrados), que tem como objetivo aumentar a representatividade dos brasileiros que vivem fora do Brasil. De acordo com ele, um perfil direitista e conservador sempre leva a melhor, independentemente de quem seja.
Prova disso são os resultados dos votos em cada um dos oito locais de votação para brasileiros no Japão. Em todos eles Jair Bolsonaro, candidato à reeleição pelo PL, levou a melhor. Em todos eles conquistou mais da metade dos votos, chegando a 80% deles em Nagoia, um dos maiores colégios eleitorais brasileiros no exterior. Os demais candidatos mais bem votados foram Lula (PT), Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), nessa ordem.
Houve um aumento do número de eleitores no Japão com relação às eleições de 2018. Hoje são mais de setenta e cinco mil, ou seja, 25% a mais que a última disputa.
Esse aumento tem relação, provavelmente, com a regulamentação de documentos como CPF e passaporte. No entanto, esse aumento no número de eleitores não ficou evidente no primeiro turno, isso porque em algumas cidades, como a capital japonesa, por exemplo, 60% do eleitorado se absteve de seu direito a voto.
O PT, partido do candidato Lula, nunca saiu vitorioso no Japão.
A rejeição à esquerda vem aumentando cada vez mais e pode ser notada pela diminuição da porcentagem de votos a favor do partido em cada eleição.
De acordo com Gabriela Gunshike, pesquisadora e doutorando da Universidade Metropolitana de Tóquio, o número de votos conquistado por Aécio em 2014 quando disputou com Dilma foi praticamente a mesma de Bolsonaro em 2018, quando este ficou com mais de 90% dos votos válidos.
Essa rejeição à esquerda e escolha por candidatos de direita ou centro-direita vem acontecendo há mais de trinta anos, quando em 1989 foi feita a primeira eleição presidencial brasileira no exterior.
Kamiuntem, no entanto, identificou também uma mudança no perfil desse eleitorado, embora a preferência se mantenha. De acordo com o pesquisador, hoje em dia existe um número cada vez maior de brasileiros que nasceram no Japão e se alfabetizaram naquele idioma.
Essa categoria chamou a atenção dos consulados nesse domingo. Foi necessário espalhar informações nos dois idiomas para atingir essas pessoas também.
Kamiuntem identifica que a maioria desses jovens acaba escolhendo os mesmos candidatos que seus pais por não conhecerem a realidade brasileira e tão pouco o idioma.
Partindo desse pressuposto é possível explicar a preferência pela direita uma vez que esses pais desses jovens, com uma faixa etária um pouco abaixo dos 50 anos, são oriundos de estados como São Paulo, Mato Grosso, Paraná e etc, onde o conservadorismo é predominante. Para ele, essas pessoas mudaram seu destino quando se mudaram para o Japão, mas não sua preferência política.